A CULPA É DO BIRÔ
"As paredes da cidade, os livros, os espetáculos e os eventos educam - no entanto, agora eles parecem, principalmente , deseducar os habitantes. Comparem as lições dadas aos cidadãos de Atenas (mulheres e escravos incluídos) durante a representação das tragédias gregas com o tipo de conhecimento que hoje é consumido pelo espectador(...)"(Castoriadis)
A idéia da culpa é algo presente no ser humano desde os primórdios da humanidade. Alguém sempre tem de ser culpado por algo. Onde existe a idéia da culpa, existe seu contrário, o inocente. E assim a humanidade vem vivendo sua curta vida. Uns culpando os outros, necessariamente, inocentando os demais.
Podemos entender culpa enquanto ação negligente, ou mesmo como uma falta voluntária, se concordarmos com o Dicionário Aurélio. O inocente vem a ser aquele que não causou dano, portanto, isento de culpa.
Bem, não estamos aqui para discutir culpados ou inocentes. Então qual o motivo destas rápidas palavras? A resposta vem a ser outra pergunta: Qual o motivo delas estarem presentes sempre quando se fala em Educação? Em Aprendizagem? Em defasagem na Aprendizagem? Quem é o culpado? O aluno? O Professor? A teoria pedagógica? O livro didático? O atual tecido social?
As perguntas são infinitas, como infinitas são as respostas para as perguntas postas.
Como certa vez afirmou o historiador Eric Hobsbawm: “É mais fácil formular perguntas que respostas...” , e que verdade esta, se é que existe uma verdade. Não é este o momento ainda para discussão sobre tal palavra denominada de verdade. Para não irmos discutir a idéia de verdade.
Estamos no período de retorno às aulas. No Brasil inteiro alunos alegres, outros tristes. Pais alegres por seus filhos irem aprender, outros por eles não estarem em casa naquele turno. Professores participando de semanas pedagógicas em escolas no Brasil inteiro. Alguns leram algo nas férias, outros, nenhuma página. Alguns reclamam dos baixos salários, outros por ter chegado a hora de rever aquele aluno. Lembra? Aquele do ano passado. Uns poucos sorriem de contentamento pela volta a seu habitat: a sala de aula.
Mas, voltemos ao aparecimento da idéia da culpa, e do culpado, na educação. Não me perguntem, pois não tenho a resposta, do exato momento em que esta idéia apareceu no terreno educacional. Acho necessário refletir sobre a Educação, e não em parte dela. Qualquer reflexão sobre parte do processo educacional será um atentado a Educação. Educação é um todo, não uma parte.
Pedimos ajuda, novamente, a Eric Hobsbawm quando relatando as lições dadas a ele por um professor relata: “As pessoas em função das quais você está lá (disse meu próprio professor), não são estudantes brilhantes como você. São estudantes comuns com opiniões maçantes, que obtém graus medíocres na faixa inferior das notas baixas, e cujas respostas nos exames são quase iguais. Os que obtêm as melhoras notas cuidarão de si mesmos, ainda que seja para eles que você gostará de lecionar. Os outros são os únicos que precisam de você.” Ou seja, tens coragem de ir para a sala de aula? Ainda queres?
Estaríamos a culpar, então, o professor. Não, seria apenas um alerta de como direcionar o olhar. Para onde o olhar do Professor deve ser direcionado? Para aqueles que, geralmente, o professor não quer olhar. Os alunos de pior rendimento. Não somente o professor, a sociedade como um todo. Os chamados “problemas”. Bem, acontecendo isto, o problema reside no professor.
Afinal, estamos a educar, não para rotular.
Mas, diante de tantas transformações no tecido social, isto que chamamos de sociedade, onde o alunado tem acesso mais rápido às informações que o professor. Existe uma maior liberdade dentro do lar e tantas outras situações novas para a sala de aula que o professor, neste parágrafo, foi transformado em vítima. Seriam o aluno e sua família os culpados? Mas, culpados de ???!!!
Acontece que com os péssimos resultados no processo educacional como um todo é natural a busca de quem errou, no caso, do culpado. Na berlinda ficam sempre: professor, aluno e família. Mas, não esqueçamos a Escola. A Escola parece ter parado no tempo e espaço tantas são as transformações que a sociedade atravessa. Não podemos ter um aluno que tem acesso a tudo, de repente ter tudo dele retirado. Parece que o meio termo não apareceu para esta situação.
O meio termo tem nome: limite.
Pior, não podemos ter um professor refém de quem está livre, o aluno, e ele somente a ensinar. Chegamos, então, em um rótulo antigo que o professor faz de conta de passar alguma coisa chamada conteúdo, e aluno de apreender. Seriam os dois culpados? Ou ambos inocentes? Se ambos são inocentes a Escola é a culpada.
Considerando ser a Escola algo físico terminamos por desaguar nas teorias pedagógicas de década tal a ser vivenciada em nossa época. Ou seja, fora de contexto. Mas, será que uma literatura é superada pelo aparecimento de outra? Não. Temos de entender a necessidade de compreensão de o texto passado nos ajudar para a leitura dos novos textos.
E, ainda, ao lermos um texto sobre educação, ou qualquer assunto, entender a época de sua produção. A época que o autor viveu, conviveu e escreveu.
Estamos caminhando para inocentar a todos?
Vejamos.
Inocentados estão professor, aluno, escola, teorias pedagógicas, .....
A família? Será a família a megera desta história de falhas na Educação?
Não.
A família não pode ser culpada de algo que, em muitos casos, ela desconhece: o processo ensino-aprendizagem. Isto é fato. Alguém poderá afirmar, e tem todo o direito, de que a família de hoje não educa como a de antigamente. E estará correto na afirmação. Mais correto ainda estará se perceber que em cada época a família assume papéis diferenciados. Não precisamos sair a passear pelas décadas de 40, 50, 60, 70, 80.
A cada década um tipo de família.
Uma sociedade, um filho diferente em um tecido social mutante.
Da mesma forma que a educação é transformadora, a sociedade é mutante. Os valores não são os mesmos. Necessário se faz esta percepção. Ou seja, é imperioso ver que o aluno de hoje não pode ser ensinado como o de ontem. Cabe a Escola, ao Professor, à Família, as teorias pedagógicas utilizadas hoje de que o aluno não é mais o de ontem.
Chegamos a outro ponto: todos são culpados e inocentes ao mesmo tempo?
Talvez seja este o ponto aonde chegamos com nossa Educação. Some a isto a ausência de investimentos por parte do Estado na educação e a situação é mais delicada.
Finalmente, quem é o culpado? Quem é inocente?
Ah!
Na educação não existe o Mordomo, nosso eterno culpado.
O culpado é o Birô.
Isto mesmo, caro leitor, o Birô é o grande culpado.
Que papel ele exerce na sala de aula hoje? Nenhum.
Aquela massa amorfa parada entre o professor e o aluno no meio da sala de aula a atrapalhar o processo ensino-aprendizagem. Criando uma distância, ainda maior, entre o professor e o aluno. O aluno passa a temer o birô e o material posto sobre ele, e o professor não sabe como sair para chegar ao seu fiel leitor: o aluno.
A Escola, os professores, os alunos, famílias, teorias pedagógicas deveriam iniciar, urgentemente, uma campanha junto ao MEC pelo fim dos birôs na Sala de Aula.
Lembre-se, caro leitor, entre os filósofos gregos e seus discípulos não havia birôs a separá-los.
Vamos todos, unidos pela educação, como em uma Cruzada, afastar os nefastos birôs de todas as salas de aula do Brasil. Seremos o primeiro em gramática, matemática e ciências em todos os exames.
Afinal, nos erros cometidos na educação brasileira não existem culpados. Apenas o Birô.
Afaste-se o Birô.
Gostei muito do texto...Mas o Birô, não tem essa culpa toda. vamos deixar o coitado de lado, e procurar outro problema. Na verdade o birô é um verdadeira ferramenta onde o professor pode usa-lo para impor a sua autoridade. Os verdadeiros culpados, são os professores que não procuram o constante conhecimento, e que estão procurando desculpa em qualquer coisas para cobrir a sua falta de qualidade em sala de aula, levando a essas educação de merda que nós temos!!
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