Resumo.
Este trabalho pretende discutir o multiculturalismo, como ele surgiu e em que circunstância, quais os autores que tratam desse tema, e com isso levá-lo para o campo da educação, como os PCN’s vem tratando essa questão, os cuidados que eles devem ter com os conceitos de cultura, sabendo que os textos que encontraremos nesses documentos não permitem uma idéia unívoca do assunto. Fazemos uso de autores como a Marta Abreu e Hebe Mattos que discutem essa questão nos mostrando que os PCN’s foram textos que antecederam as “diretrizes para o ensino de história e cultura afro-brasileira” reconhecendo que para isso foi mister e louvável a luta do movimento negro. Analisando se atualmente os formadores de professores de história ensinam “na” e “para” uma perspectiva multicultural. Tendo como base a consciência das dificuldades que a educação no país sofre, perspectiva de como usar o currículo para inserir, abordar e discutir a história daqueles que possuem uma história marcada pela opressão e injustiça a exemplo da História afro-brasileira e africana. Defendendo argumentos que propiciem uma identidade individual/coletiva nesse contexto multicultural, no qual a escola é o lugar indicado para essas discussões. Abordando também as idéias expostas no artigo intitulado “Formação de professores/as e ensino de história: a perspectiva multicultural em debate” das autoras Selva Guimarães Fonseca e Regina Célia do Couto que nos darão apoio às nossas colocações acerca do tema.
Palavras-chaves: Multiculturalismo, educação, PCN’s.
O multiculturalismo surge em território estadunidense não apenas como forma de luta da cultura negra mais como bandeira de luta de outras “minorias” e como abordagem curricular contrária a todo forma de discriminação, de preconceito ou qualquer outro modo de oprimir a cultura do “outro”. A busca inicial era pela superação do racismo e por direitos civis. Os precursores do Multiculturalismo foram professores doutores afro-descendentes, docentes universitários que trouxeram por meio de seus trabalhos questões sociais, culturais, política, etc. São alguns deles George W. Williams, Carter G. Woodson, W.E.B. Dubois, Charles H. Wesley, St. Claire Drake. Estes baseavam-se em argumentos científicos para promover entre populações segregadas a buscar por direitos iguais. O multiculturalismo é também uma estratégia política de reconhecimento e representação da diversidade cultural existentes nas escolas e não se pode entendê-la dissociada às lutas de grupos que tem suas culturas oprimidas.
Para discutirmos multiculturalismo na educação hoje devemos nos ater a questão do processo de globalização e neoliberalismo que vivemos, os quais divulgam um padrão de cultura, de modo de ser que impede os indivíduos de exercerem aquela cultura na qual estes fazem parte. Pensar como a educação lida com isso é questão primordial para o aperfeiçoamento tanto do profissional como do entendimento deste caminho. Essa concepção e experiência pedagógica surgiram nos Estados Unidos no inicio do século XX, justamente inicio do processo de globalização, percebido na época pelo filosofo Theodor Adorno. Foi exportada para a Europa com a intenção de enfrentar as questões econômicas, políticas, religiosas, etc. que circundavam não só estes territórios, mas vários outros que estavam a ser cooptados pela globalização.
Diante disso devemos perceber nosso quadro atual, marcado pela revitalização do capitalismo no qual existe um processo de universalização do capital e o crescente aumento dos intercâmbios culturais, que se tornou uma prática também cooptada pelo capital se vermos o enquadramento dos passeios turístico por locais que para esses o diferente é exótico, é atração turística, em um processo de verdadeira “safarização” do homem pelo homem. Sobre isso Valente argumenta (1999): “Aceitar as diferenças e enriquecer-se com elas continua a ser um problema que hoje ninguém sabe resolver porque supõe o reconhecimento da alteridade”.
A globalização faz com que surja aqueles grupos que se sentem sufocados e que lutam pelo reconhecimento e respeito pelas suas culturas e pelos seus costumes, algumas vezes fazendo surgir conflitos e revoltas geradas por conta disso. Saber tratar o multiculturalismo na educação como meio de se ter nas salas de aula maior aceitação das diferenças é um ponto primordial para a preparação de educadores que terão consciência do quadro social, econômico, cultural, religioso e estrutural que ele encontrará nas salas de aula a fora. Discutir como tratar, por exemplo, de histórias de sociedades nos livros que trazem abordagem de cunho altamente preconceituosa, não altera e que impõe uma cultura uniforme em um contexto multicultural, esse é um dos desafios do professor nesse contexto da educação.
Nessa fase de questionamentos podemos nos deparar com a situação em que se encontram os PCN’s,será que estes documentos estão sendo avaliados ou até mesmo sendo criados da maneira a se perguntar sobre tais questões multiculturais, pois em um país onde a diversidade cultural é inerente ao seu povo, a diversidade deve ser respeitada em detrimento de uma cultura globalizante que uniformiza as sociedades e depressa os diferentes. Os professores irão ter pela frente a função de lidar com a diversidade dos estudantes bem como com essa cultura capitalista que degenera e deixa no esquecimento conceitos importantes para o convívio social como o conceito de alteridade e até mesmo o de diversidade.
No artigo intitulado “Formação de professores/as e ensino de história: a perspectiva multicultural em debate” de Selva Guimarães Fonseca e Regina Célia do Couto levantam estas questões baseadas na formação dos professores e analisam os parâmetros curriculares no ensino de História no país, perguntam-se ainda se as instituições formadores de tais professores trabalham com a pluralidade cultural e outra pergunta levantada é se os formadores de professores de história formam “na” e “para” uma perspectiva multicultural.
Para Fonseca a formação dos professores a partir de uma perspectiva multicultural acarreta uma mudança de postura e também pedagógica no decorrer de sua experiência enquanto docente. Citando McLaren a autora afirma que assumir uma postura multiculturalista é “compreender a representação de raça, classe e gênero como resultado de lutas sociais mais sobre signos e significações”. Ainda baseado neste autor Fonseca e Couto discutem as diferenças como sendo uma construção histórica, como um produto histórico, “é sempre o produto da história, cultura, poder e ideologia. A diferença ocorre entre dois grupos e deve ser compreendida em termos das especificidades de sua produção”. Para a obtenção de uma transformação social segundo as autoras, é preciso ter em mãos o multiculturalismo crítico, que viria a desmantelar o projeto hegemônico que rege a sociedade, projeto esse que vê a diversidade como uma mescla de culturas, mas cada uma com seus significados particulares. Para haver de fato uma mudança é necessário transformar as relações sociais, institucionais que criam os significados pondo a cultura como algo homogêneo.
Aquilo que para Mclaren se constitui como sendo “a questão urgente do novo milênio”, justamente a pluralidade etno-cultural e a necessária política de justiça universal, foram abordadas em 1999 na reunião da Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação (ANPEd), questões que ficaram explicitas no titulo do evento, a questão da diversidade e da desigualdade, indicando esta como o principal desafio da educação na fronteira do século. Essa problemática tem sido abordada numa visão do Multiculturalismo em espaços nos quais, a formação docente vem crescendo e sendo discutida e negociada de modo intenso. Conforme Ana Canen pesquisadora do PROEDES(UFRJ) que trabalha com as teses e dissertações sobre o que dizem estes trabalhos acerca do multiculturalismo na educação, ela cita vários autores que trabalham com esta temática, a exemplo de Lopes (1999), Moreira (1999) e Silva (1999), estudos que vem tencionando o campo do currículo, trazendo novos olhares e valorização de identidades culturais que estavam, se não já, apagadas ou negadas dos componentes curriculares monoculturais (Eurocêntrico). A pesquisa da Ana Conen vem levantar a emergência de se discutir o multiculturalismo na educação e começando no principio, ou seja, na formação do corpo docente e na construção do currículo, ela tem como base as teses e dissertações elaboradas em 1981 a 1998, encontrados no CD Rom da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.
A educação em nosso país sofre com dificuldades diversas, o currículo deve ser pensado de acordo com as necessidades vigentes, de analisar quais as melhores formas de tratar a sua diversidade cultural, mas a deficiência nos currículos é um problema isolado e interno, existem problemas maiores e que externamente são mais conhecidos. A começar pela estrutura física que na maioria das vezes não oferece conforto e segurança para os estudantes, um quesito que também se envolve com o multiculturalismo na educação são as leis das cotas raciais e universais que dividem opiniões e que trazem à tona a deficiência de pessoas pobres e negras conseguirem ingressar em uma universidade publica. Sabemos que tudo se relaciona com o processo da história que existiu em nosso país, o qual excluiu e ainda o faz, o negro, índio, ciganos, pessoas pobres no geral que se vêem afastados da educação como se isso fosse natural, algo que se configura em uma questão de educação de base, pois como os professores não trabalham muito a história cultural desses povos de forma a “normalizar” seus costumes e suas crenças, fazendo com que o problema fosse amenizado, se não existir um incentivo maior por parte dos professores e do estado nessa empreitada? A formação de um corpo docente capaz de levantar tais questões e discuti-la em seu cotidiano, porque aquilo que faz com que culturas outras sejam excluídas do processo educacional, social, econômico, etc. age cotidianamente.
Defendemos argumentos que propiciem um reconhecimento identitário individual em um meio onde se é possível encontrar um multiculturalismo, na construção das diferenças e valorização e ampla discussão de alteridade, fundamental para o respeito e convívio recíproco. E o local onde estas discussões devem ser efetivadas é justamente nas escolas, devem ser sempre lembradas nas salas de professores, devem ser registradas nos documentos curriculares e estampada em cartazes por todos as escolas, sejam elas particulares ou publicas.
Algo que como já mencionamos é tarefa árdua, pois na realidade as diferenças que são pautadas pela sociedade são as que tem como pontos as desigualdades, e a noção de superior x inferior, é uma diversidade forjada na hipocrisia social que segue um padrão estabelecido e todos outros existentes são colocados como exótico, do mal, a diferença é tratada como se isso fosse uma anormalidade incoerente, que, por exemplo, a existência de monoteístas e politeístas convivendo em espaços iguais, mas que aqueles que crêem em um único Deus, insistem em julgar os deuses de outras pessoas como maligno, ou apregoando adjetivos negativos com o objetivo de depreciar a cultura do outro.
Essas discussões acerca das dificuldades encontradas na questão multicultural na educação são difíceis de serem discutidas, pois a diversidade de costumes, tradições, culturas entre outros vários aspectos sociais, não recebem à atenção devida, em um universo onde o igual é divulgado como sendo o normal, o aceitável faz com outras culturas sejam “sufocadas” E é dessa forma que esta polemica questão é abordada, parece fácil, entretanto é deveras complexa, uma possível solução que vamos encontrar a médio e curto prazo vai ser pautada em diálogos constantes e exaustivos, nos quais com certeza irão surgi as diferenças impostas pelo sistema e a tentativa de hegemonia desse, leia-se a identidade “eurocentrícanorteamericananizada”, cristocentrica, capitalista e preconceituosa, é preciso está atento e forte para que não haja de fato o reconhecimento de tal pensamento, que seja respeitada de fato e de lei o multiculturalismo na educação como forma até de buscar o diálogo com os estudantes, discutir como diversos grupos foram construídos e que as diferenças também são socialmente construídas . Não é algo utópico estas questões, pois sabemos que a partir do momento que conseguimos aceitar o outro inicialmente nas salas de aula como ele é, alteramente, veremos que a tolerância o respeito e valores até então quase que esquecidos coletivamente irão surgir de forma efetiva
O ensino de história que trate de questões relativas às diversas sociedades e suas culturas tem um papel quase que de responsabilidade com a educação de estudantes diversificados. Paiva analisa da seguinte forma: “A idéia de uma história estática, factual, que parou no tempo e deve ser decorada, é muito contrária à dinâmica do mundo hoje. Formar professores de História na perspectiva multicultural, da forma como eu entendo, é, exatamente, formar profissionais gabaritados, competentes para fazer com que outras tantas milhares de pessoas, de estudantes, possam realmente compartilhar do mundo, no qual ele se insere, no mundo que eles constroem”. ( Paiva: UFMG).
A perspectiva multicultural na educação é primordial para que tenhamos crianças, jovens e adultos capazes que ver no outro a diferença a ser respeitada, reconhecer que existe uma variedade de pensamentos que podem ser ou não convergentes mas que mesmo assim convivem no mesmo território, na mesma escola ou bairro e que a comunicação entre essas diferenças é que traz o enriquecimento cultural, intelectual, e ocorre um melhoramento no caráter que é construído por este respeito que sempre deve ser mútuo.
Referências bibliográficas.
BOTLER, alice happ. In: Educação, multiculturalismo e ética.
CANEN, ana, ARBACHE, ana paula, FRANCO, monique. In: Pesquisando multiculralismo e educação: o que dizem dissertações e teses.
FONSECA, guimarães selva. COUTO, regina célia. In: Formação de professores/as e ensino de história: a perspectiva multicultural em debate.
SILVA, maria de albuquerque da, BRANDIM, maria rejane lima. In: Multiculturalismo e educação: em defesa da diversidade cultural.
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